Embora descendente da nobreza européia, Ana Jansen tem uma juventude sofrida. Mãe solteira, luta para manter a mãe e o filho pequeno. Sua situação melhora aos poucos, depois que se torna amante do coronel Izidoro Rodrigues Pereira, o homem mais rico da província. Esse relacionamento escuso transforma Ana Jansen num alvo fácil para a sociedade moralista da época, personificada acima de tudo por sua maior inimiga: dona Rosalina Ribeiro. Izidoro assume oficialmente a relação com Ana depois da morte de sua esposa, dona Vicência. O casal permanece junto por quinze anos até a morte de Izidoro, que deixa mais seis filhos para a heroína. O principal motor psicológico da personagem Ana Jansen é o desejo de resgatar o nome e o prestígio de sua família, achincalhado depois da falência de seu avô, Cornélio Jansen Müller. Após a morte de Izidoro, Ana dá um largo passo em direção a este sonho, tornando-se rica, independente e poderosa. Ela assume a fazenda Santo Antônio, propriedade do falecido coronel e, logo, consegue triplicar a fortuna herdada. Perseverante e ambiciosa, Ana transforma o dinheiro em poder, assumindo a liderança política da cidade e reativando o esfacelado partido liberal Bem-te-Vi. Cada vez mais, Ana é mal falada pelas mulheres maranhenses e odiada pelos inimigos políticos (ressaltando-se sua rivalidade com o Comendador Meireles, líder do partido conservador). Mas seu temperamento forte e sua capacidade de liderança alcançam a corte de D. Pedro II e ela passa a ser chamada, informalmente, de “Rainha do Maranhão”. Depois da morte de Izidoro, Ana se torna amante do Desembargador Francisco Vieira de Melo, com quem tem mais quatro filhos. Mais tarde, já aos sessenta anos, casa-se pela segunda vez com o comerciante paraense Antônio Xavier. Depois de morta, Ana tem sua memória maculada pelos inimigos que a transformam em uma alma penada, em uma bruxa maldita que percorre as ruas de São Luís puxando um cortejo de escravos mutilados.
A lenda mais popular de São Luís. Reza que Ana Jansen, mulher rica, poderosa e, segundo alguns, muito malvada com seus escravos, teria sido condenada a pagar seus pecados vagando eternamente pelas ruas da cidade numa carruagem encantada. O coche maldito parte do cemitério do Gavião, em noites de quinta pra sexta-feira, e ai de quem encontrá-lo pelo caminho. Ao incauto, Ana Jansen oferece uma vela acesa que, na manhã seguinte, estará transformada em osso de defunto. Um escravo sem cabeça conduz a carruagem, puxada por cavalos também decapitados.
Biografia de Ana Joaquina Jansen Pereira Dona Ana Joaquina Jansen Pereira, Ana Jansen, Don’Ana Jansen, Nhá Jansen, Nhá Jansa ou, simplesmente, Donana era filha do senhor Vicente Gomes de Lemos Albuquerque e de Dona Rosa Maria Jansen Moller (ou Müller, como mais tarde veio a grafar-se o nome). Bisneta materna de Henrique Jansen Moller, descendente de antigas famílias holandesas, portuguesas e italianas e neta do Mestre de Campo Theodoro Jansen Moller, Dona Ana Jansen não nasceu, ao que parece, em uma “boa fase” nas finanças de sua família, entretanto, a sorte iria sorrir-lhe. Um relacionamento amoroso com o abastado fazendeiro, o Coronel Isidoro Rodrigues Pereira, que era casado, mas que mais tarde, já viúvo, veio a casar-se com a jovem Ana Jansen, deu-lhe, novamente, o status que, por infortúnios comerciais, tinham perdido os Jansen. Tornou-se, Donana Jansen, economicamente poderosa e politicamente muito influente fato raro na sociedade da época em que as mulheres não eram relevantes em assuntos econômicos e, menos ainda, políticos. Cedo enviuvando do Cel. Isidoro Pereira, torna-se senhora de todo patrimônio herdado do marido e uma das cabeças do partido liberal, os chamados Bem-te-vis. Ana Jansen foi, assim, uma figura polêmica que criava dissabores para muitos políticos, sobretudo para os conservadores, como seu arqui-rival, o ilustrado gramático, latinista e professor do Liceu, Francisco Sotero dos Reis. Misto de lenda e realidade, a vida de Donana Jansen, até hoje, desperta grande interesse. Deve-se ter o cuidado de não julgá-la fora de sua época, utilizando medidas e parâmetros alheios ao sitz im leben, isto é, ao contexto vital em que a personagem viveu e atuou. Muitas das atrocidades imputadas à personagem resultam da difamação dos seus opositores políticos ou, quando verdadeiras, do que não se duvida, não diferia, substancialmente, do comportamento dos demais senhores e senhoras de escravos (vide o exemplo do célebre crime cometido pela futura baronesa de Grajaú, que, tresloucadamente, assassina dois escravinhos seus a garfadas). Diante de tão fascinante personagem, fonte de tantas paixões e debates acalourados, resolvi, incentivado pelo genealogista Roberto Menezes de Moraes, iniciar uma pesquisa sobre Ana Jansen, sua família e sua história. Nada melhor para começar que pelo nascimento de Donana. Não há um dia, mês e ano precisos para o nascimento de Ana Jansen. Somente o ano. 1787 é tido como o ano em que a ilustre personagem veio ao mundo. A data abonada por muitos pesquisadores, como, por exemplo, o acadêmico Jomar Moraes em Ana Jansen, Rainha do Maranhão que, no início da obra, no capítulo ironicamente intitulado “A rainha que não chegou a baronesa” fazendo referência ao tão almejado baronato que nunca lhe foi concedido, apesar das inúmeras tentativas de Ana Jansen em convencer o Imperador, desde as simples adulações até as centenas de arrobas de mantimentos e provisões (arroz, feijão etc) enviadas para os soldados brasileiros em campanha no Paraguai, pois bem, como dizia, neste capítulo, à página 13, diz-nos Jomar Moraes que Ana Jansen “nasceu em São Luís, no ano de 1787, e faleceu na mesma cidade, a 11 de abril de 1869, contando 82 anos de idade”. O ano de 1787 é repetido, anteriormente, em obras do eminente historiador Jerônimo de Viveiros e, igualmente, pelo pesquisador Waldemar Santos em sua obra Perfil de Ana Jansen. Esta data, porém, nos cria uma série de dificuldades, para não dizer aporias. Partindo da data de falecimento, contida no Jornal O Publicador Maranhense, de 12 de abril de 1889, em que Ana Jansen teria falecido aos 82 anos de vida no dia 11 de abril de 1869, ela teria nascido em 1787. A data de falecimento está correta, mas a de nascimento, como já disse, cria-nos embaraços, senão, vejamos: seu último filho, nascido entre a viuvez do primeiro matrimônio, com o Coronel Isidoro Pereira e o seu segundo matrimônio com o Comerciante Antônio Xavier da Silva Leite, fruto de seu relacionamento com o desembargador Francisco Carneiro Pinto Vieira de Mello, foi batizado na Freguesia de Nossa Senhora da Vitória (Sé), em São Luís no dia 28 de julho de 1838, tendo nascido, segundo consta no texto do próprio assento, em 15 de maio daquele mesmo ano de 1838. Considerando que Ana Jansen tivesse nascido, realmente, em 1787, teria àquela altura a improvável idade de 51 anos, isto é, um pouco idosa, para conceber, visto que, em geral, aos 51 anos as mulheres já não estão em período fértil, além do que, a medicina da época não permitia, ao nosso ver, um adiamento da menopausa ou, na hipótese de uma menopausa naturalmente tardia, uma gravidez de risco chegada a termo com mãe e filho sãos e salvos, não era algo factível. Outra dificuldade que se coloca diz respeito à data de casamento dos pais de Ana Jansen que se uniram em São Luis, em 27 de julho de 1792. Parece-nos pouco provável que, Ana Joaquina tivesse nascido antes do matrimônio de seus pais. O verdadeiro ano de nascimento de Ana Jansen pode ser deduzido a partir de um documento encontrado no acervo da Arquidiocese de São Luís, sob a guarda do Arquivo Público do Estado do Maranhão. Ana Jansen nasceu, segundo seu próprio testemunho, em 1798, isto porque em um processo de justificação de batismo datado de 1832 de um sobrinho da matrona, o senhor José Jansen do Paço, Ana Joaquina Jansen Pereira é arrolada como testemunha e, em seu depoimento, ela diz ter a idade de 34 anos. Basta-nos, pois, um simples cálculo e teremos como resultado o ano de 1798 (1832-34=1798). Alguém poderia objetar que, Ana Jansen Pereira poderia ter mentido ou alterado sua idade. Parece muito pouco provável esta hipótese, senão impossível, visto que, naquela época um processo de justificação de batismo era algo muito sério e meticuloso, além do que, toda oitiva de testemunhas, mormente em um processo de natureza eclesiástico-canônica, era tomada sob juramento diante dos livros dos Santos Evangelhos, o que impunha muito temor às pessoas de cometerem não somente o crime de perjúrio, mas de mentindo diante do próprio Deus, ser condenadas às penas infernais. Assim, pelos motivos expostos e pelas provas documentais, fica esclarecido o ano exato do nascimento da matrona maranhense e, com esta pequena descoberta, que se quis logo tornar pública, corrigi-se um equívoco histórico cometido por historiadores e intelectuais maranhenses que, no que pesem a qualidade de seus trabalhos, não tiveram acesso às fontes primárias que se teve e ressentem-se deste senão. Quanto ao restante da data, isto é, o dia e o mês exatos do nascimento, mesmo compulsando-se boa parte dos livros de batismos do período de 1798, ainda não foi possível encontrar-se o assento de batismo de Ana Jansen, que preencheria, definitivamente, a lacuna. Início do trecho ela diz ter 34 anos, e no final do depoimento sua assinatura.
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